Paralisação pode gerar fuga de investidores no curto prazo, mas abre espaço para entrada de recursos no Brasil, dizem especialistas
Com o relógio correndo contra o tempo e a Casa Branca já admitindo o risco do shutdown, o desafio agora é entender os impactos.
Se não houver consenso com senadores democratas sobre o orçamento de 2026 até a meia-noite desta terça-feira (30), os Estados Unidos terão uma paralisação de serviços públicos que atinge a divulgação de dados econômicos cruciais, como inflação, emprego e cresciment
Um tipo de impasse que não é inédito, mas que gera prejuízos. Em 2013, foram 16 dias de paralisação; entre 2018 e 2019, tivemos um recorde: 35 dias.
Na época, as bolsas americanas caíram e o impacto se espalhou para o resto do mundo, inclusive para o Brasil, como lembra Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
“A questão do shutdown é sempre negativa na percepção de risco. Nas vezes que isso aconteceu, em 2013, 2018 e 2019, as bolsas americanas caíram e as bolsas do resto do mundo caíram junto. E no Brasil já acompanhamos essa sensação de maior risco no mercado, porque a leitura mais direta é a de que, nesses casos, você tem uma migração dos ativos de maior risco para ativos mais seguros.”
O reflexo imediato costuma ser a saída de capital de países emergentes e a queda do Ibovespa ao longo das operações desta terça-feira (30) exemplifica bem isso. Mas o Brasil pode ser uma exceção, como explica Eduardo Grübler, gestor da AMW (Asset Management by Warren).
“Num primeiro momento, o efeito seria essa saída de mercados emergentes e o possível fluxo negativo para o nosso Ibovespa. Porém, esse movimento também pode ser positivo para o Brasil, porque estamos com um sentimento global mais favorável em relação aos outros emergentes. Durante shutdowns, também vemos queda dos juros longos americanos, o que melhora nosso diferencial de juros e pode trazer mais dinheiro para cá.”
“Esse shutdown gera mais volatilidade do que os que já acompanhamos em outros anos. Caso ocorra a paralisação, a incerteza só aumenta porque não sabemos quando teremos os dados de volta e isso reforça o movimento de busca por segurança”, acrescenta Grübler.
Por isso, para quem investe na bolsa, o cenário é de atenção redobrada. Se o shutdown for rápido, os efeitos tendem a ser passageiros. Mas se a paralisação se prolongar, o mercado brasileiro pode oscilar entre fluxos negativos de curto prazo e oportunidades ligadas ao diferencial de juros.
O desfecho em Washington pode sair até meia-noite, mas os reflexos para o Brasil já são sentidos: mais cautela no mercado, volatilidade no câmbio e uma bolsa ainda mais reativa ao sobe e desce dos humores políticos americanos.
