Grupo busca sensibilizar autoridades dos poderes Executivo e Legislativo para evitar o que chamam de desrespeito dos grandes bancos aos lojistas e clientes
Um grupo de 11 entidades ligadas aos setores de varejo e serviços lançou uma força-tarefa em defesa do parcelamento de compras no cartão de crédito sem a incidência de juros. Batizado de “Parcelo Sim”, o movimento começou a angariar assinaturas pela internet. A ideia é sensibilizar autoridades dos poderes Executivo e Legislativo para evitar o que chamam de desrespeito dos grandes bancos aos lojistas e aos clientes.
O tema tem sido alvo de discussões, nos últimos meses, sob a ótica da elevação do endividamento e a inadimplência dos consumidores. Em Pernambuco, a estimativa é que cerca de 80% das vendas do varejo são realizadas utilizando esta modalidade e no prazo máximo ofertado pelos estabelecimentos. Na esfera nacional, a percepção é de que a fatia vai além, ultrapassando 90%. Em pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, 42% das pessoas sinalizaram que iriam reduzir seus gastos pela metade, em caso de cessação.
O mesmo levantamento mostra que 115 milhões de brasileiros só conseguiram realizar seus sonhos, até hoje, com a ajuda desta facilitação. Nesta queda de braço, o varejo e o setor de serviços defendem a manutenção do parcelado sem juros no formato atual. Por outro lado, os grandes bancos argumentam que o instrumento precisa ser limitado. A visão é de que os juros do crédito rotativo, em que ingressam clientes que não pagam a fatura do cartão, possam diminuir.
“Os juros do rotativo, que chegam a 400%, são abusivos e criam todo o problema. Não há sentido relacionar o crédito como o grande vilão da inadimplência, penalizando o comércio e, por consequência, toda a sua cadeia de trabalhadores. O que seria mais prudente, na verdade, era a instalação de mecanismos melhores para a análise, junto às administradoras de cartão, antes de emiti-los”, afirma o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-Recife), Fred Leal, que complementa: “O parcelamento é um tipo de crediário pré-aprovado”.
O sentimento é reforçado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-PE), que enxerga o parcelamento como um grande condicionante do consumo. “Muitas vezes, esta é a única forma de uma pessoa, com renda mais restrita, conseguir adquirir um bem de maior valor, porém de primeira necessidade, como uma geladeira, por exemplo. Podemos ampliar o leque e entender que isso atinge até mesmo a saúde e integridade dos cidadãos, já que muitas pessoas também parcelam medicamentos, consultas e procedimentos médicos”, diz o presidente, Bernardo Peixoto.
No início de outubro, o presidente Lula sancionou o Desenrola, programa que, entre outros pontos, busca criar soluções para baixar os juros do cartão de crédito. O Congresso estipulou o prazo de 90 dias para que os bancos elaborem uma autorregulamentação para isso. Após o prazo, caso não haja uma proposta viável, a dívida no cartão não pode ser maior que 100% do bem.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) também integra o movimento e, mesmo sem ofertar diretamente o parcelamento, reforça que o cenário envolve toda a roda da economia. “A ausência desta opção pode ocasionar um desequilíbrio no orçamento das famílias, provocando uma limitação no orçamento mensal. Neste efeito, gerar uma queda nos gastos ordinários, como a alimentação fora de casa, onde estamos inseridos”, explica o presidente da entidade em Pernambuco, Tony Sousa.